Mas um dia… Pedro da Maia amava! Era um amor à Romeu, vindo de repente numa troca de olhares fatal e deslumbrante, uma dessas paixões que assaltam uma existência, a assolam como um furacão, arrancando a vontade, a razão.
Numa tarde, estando no Marrare, viu parar, defronte à porta de Madame Levaillant, uma caleche azul onde vinha um velho de chapéu branco, e uma senhora loura, embrulhada num xale de Caxemira.
O velho, baixote e gorducho, de barba muito grisalha talhada por baixo do queixo, uma face tisnada de antigo embarcadiço, desceu todo encostado ao trintanário como se um reumatismo o incomodasse, entrou o portal da modista; e ela voltando devagar a cabeça olhou um momento para o Marrare.
Sob as rosinhas que ornavam o seu chapéu preto, os cabelos loiros ondeavam de leve sobre a testa curta; os olhos eram maravilhosos.
Não a conhecia. Mas um rapaz alto, macilento, de bigodes negros, vestido de negro, que fumava encostado à outra ombreira, vendo o interesse de Pedro murmurou-lhe:
- Queres que te diga o nome, Pedro? E pagas ao teu amigo Alencar uma garrafa de champanhe?
Veio o champanhe. E o Alencar, depois de passar os dedos magros pelos anéis da cabeleira e pelas pontas do bigode, começou, todo recostado e dando um puxão aos punhos:
- Chama-se… A deusa que tu acabaste de ver chama-se…
- André – gritou Pedro ao criado, martelando o mármore da mesa -, retira o champanhe!
O Alencar bradou:
- O quê? Sem eu saciar a minha tremenda e descomunal sede?
Pedro disse-lhe que o champanhe poderia ficar se ele dissesse rapidamente o nome daquela encantadora mulher.
- Pois… Eis o nome da deusa loura: Maria Monforte!
outubro 2005 novembro 2005 janeiro 2006 fevereiro 2006 março 2006 abril 2006 setembro 2006 outubro 2006 novembro 2006 dezembro 2006 janeiro 2007 abril 2007