12º H : "sempre na lua"

                                                                                                     

O fim de Pedro da Maia

- Desce um momento. Deixa arranjar o quarto. Vai apanhar ar.

Pedro obedeceu e seguiu o pai até à biblioteca. Sentou-se longe da luz, ao canto do sofá e ali ficou como se estivesse adormecido. Lá fora a noite estava tempestuosa, a água batia contra as vidraças, o vento abanava as árvores.

Passado pouco tempo, Pedro disse para o pai:

- Estou realmente cansado, meu pai, vou-me deitar. Boa noite… Amanhã conversaremos mais.

Beijou respeitosamente a mão do pai e saiu devagar.

Afonso demorou-se ainda ali, com o livro na mão, sem ler, atento só a algum rumor que viesse do andar de cima; mas tudo estava em silêncio.

Deram dez horas. Antes de se recolher, foi ao quarto onde fizeram a cama da ama. No vasto leito o pequeno dormia como um Menino Jesus, com o seu pequeno guizo apertado na mão. Afonso não ousou beijá-lo, para não acordar a criança com as barbas ásperas. Depois, sem ruído, subiu ao quarto de Pedro. Entreabriu a porta. O filho escrevia, à luz de duas velas. Pareceu espantado de ver o pai.

- Estou a escrever – disse ele.

Esfregou as mãos, como que arrepiado da friagem do quarto, e acrescentou:

- Amanhã cedo é necessário que o Vilaça vá a Arroios… Boas noites, papá, boas noites.

No seu quarto, ao lado da biblioteca, Afonso não pôde sossegar, ouvia, no silêncio da casa, os passos lentos e contínuos de Pedro.

A madrugada clareava, Afonso ia adormecendo – quando de repente um tiro atroou a casa. Precipitou-se do leito, despido e gritando: um criado aparecia com a lanterna na mão. Do quarto de Pedro vinha um cheiro de pólvora e aos pés da cama, caído de bruços, numa poça de sangue que se ensopava no tapete, Afonso encontrou o seu filho morto, apertando uma pistola na mão.

Entre as duas velas, Afonso viu uma carta lacrada com estas palavras sobre o envelope: Para o papá.

Daí a dias fechou-se a casa de Benfica. Afonso da Maia partia com o neto e com todos os criados para a quinta de Santa Olávia.








<< Home

Archives

outubro 2005   novembro 2005   janeiro 2006   fevereiro 2006   março 2006   abril 2006   setembro 2006   outubro 2006   novembro 2006   dezembro 2006   janeiro 2007   abril 2007  

This page is powered by Blogger. Isn't yours?