Uma sombria tarde de Dezembro, de grande chuva, Afonso da Maia estava no seu escritório a ler, quando a porta se abriu violentamente, e, levantando os olhos do livro, viu Pedro à sua frente. Vinha todo enlameado, desalinhado, e na sua face pálida, sob os cabelos revoltos, luzia um olhar de loucura. O velho ergueu-se aterrado. E Pedro sem uma palavra atirou-se aos braços do pai, rompeu a chorar perdidamente.
- Pedro! Que sucedeu, filho?
- Sossega, filho, que foi?
Pedro então caiu para o canapé, como cai um corpo morto; e levantando para o pai um rosto envelhecido, disse, muito lentamente, numa voz muito baixa.
- Estive fora de Lisboa dois dias… Voltei esta manhã…. A Maria tinha fugido com a pequena… Partiu com um homem, o italiano… E eu estou aqui!
Afonso da Maia ouvia, ali ao seu lado, aquele soluçar de funda dor; via tremer aquele corpo desgraçado que outrora embalara nos braços… Parou junto de Pedro, colocou-lhe as mãos na cabeça, e beijou-o na testa várias vezes, como se ele fosse ainda criança, dando-lhe a sua inteira ternura.
Então Afonso perguntou:
- Mas para onde fugiram, Pedro? Que sabes tu, filho? Não é só chorar…
- Não sei nada – respondeu Pedro num longo esforço. – Sei que fugiu. Eu saí de Lisboa na segunda-feira. Nessa mesma noite, ela partiu de casa numa carruagem, com uma maleta, o cofre de jóias, uma criada italiana que tinha agora, e a pequena. Quando voltei tinha esta carta.
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