Os Maias eram uma antiga família da Beira, sempre pouco numerosa, sem parentela – e agora reduzida a dois varões, o senhor da casa, Afonso da Maia, um velho já e o seu neto Carlos que estudava medicina em Coimbra. Quando Afonso se retirara definitivamente para Santa Olávia, o rendimento da casa excedia já cinquenta mil cruzados: mas desde então tinham-se acumulado as economias de vinte anos de aldeia. Tinha também havido a herança de um parente, Sebastião da Maia, que desde 1830 vivia, sem mais família, em Nápoles, ocupando-se da numismática. Vilaça, o procurador da família Maia podia sorrir com satisfação quando dizia que a família ainda tinha algum dinheirinho para a manteiga de uma fatia de pão.
Vilaça tinha aconselhado a venda da Tojeira, mas nunca tinha concordado com Afonso quanto à venda da casa de Benfica.
Agora, os Maias, com o Ramalhete inabitável, não possuíam uma casa em Lisboa; e se Afonso naquela idade amava o sossego de Santa Olávia, o seu neto, rapaz de gosto e de luxo que gostava de passar as férias em Paris e em Londres, não queria, depois de formado, ir viver nos penhascos do Douro.
E com efeito, meses antes de Carlos deixar Coimbra, Afonso espantou Vilaça quando lhe anunciou que decidira vir habitar o Ramalhete. O procurador fez um extenso relatório a enumerar os inconvenientes do casarão: o maior problema era o da casa necessitar de muitas obras.