12º H : "sempre na lua"

                                                                                                     

ALEGORIA



Figura que consiste em representar pensamentos, ideias, qualidades, isto é, temas abstractos, por termos que designam realidades físicas ou animadas (animais ou humanas), através de uma sequência organizada de metáforas contínuas e de modo que os elementos do plano das ideias e do plano figurado se correspondem um a um. Qualquer discurso alegórico pode ser lido de modo não alegórico, permanecendo inteiramente aceitável e coerente.

“O polvo, com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge; com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela; com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma mansidão.”

Padre António Vieira, Sermão de Stº António aos Peixes






 

ALEGORIA



Figura que consiste em representar pensamentos, ideias, qualidades, isto é, temas abstractos, por termos que designam realidades físicas ou animadas (animais ou humanas), através de uma sequência organizada de metáforas contínuas e de modo que os elementos do plano das ideias e do plano figurado se correspondem um a um. Qualquer discurso alegórico pode ser lido de modo não alegórico, permanecendo inteiramente aceitável e coerente.

“O polvo, com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge; com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela; com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma mansidão.”

Padre António Vieira, Sermão de Stº António aos Peixes


  • Relembrar:
  • Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente
  • A figura de olhos vendados e balança na mão que representa a Justiça.




 

AS PALAVRAS



São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?


Eugénio de Andrade, "Coração do Dia", in Poesia



 

poema de MiguelTorga



Filho peninsular e tropical

De Inácio de Loiola,

Aluno do Bandarra

E mestre

De Fernando Pessoa,

No Quinto Império que sonhou, sonhava

O homem lusitano

À medida do primeiro.

Original

No seu ser universal...

Misto de génio, mago e aventureiro.


Miguel Torga, Poemas Ibéricos




 

O ESTATUÁRIO


Arranca o estatuário uma pedra dessas montanhas, tosca, bruta, dura, informe; e, depois que desbastou o mais grosso, toma o maço e o cinzel na mão, e começa a formar um homem, - primeiro, membro a membro, e depois feição por feição, até à mais miúda; ondeia-lhe os cabelos, alisa-lhe a testa, rasga-lhe os olhos, afila-lhe o nariz, abre-lhe a boca, avulta-lhe as faces, torneia-lhe o pescoço, estende-lhe os braços, espalma-lhe as mãos, divide-lhe os dedos, lança-lhe os vestidos; aqui desprega, ali arruga, acolá recama; e fica um homem perfeito, e talvez um santo que se pode pôr no altar.

Padre António Vieira, Sermão do Espírito Santo


 

A GUERRA


É a guerra aquele monstro que se sustenta das fazendas, do sangue, das vidas, e quanto mais come e consome, tanto menos se farta. É a guerra aquela tempestade terrestre, que leva os campos, as casas, as vilas, os castelos, as cidades, e talvez em um momento sorve os reinos e monarquias inteiras. É a guerra aquela calamidade composta de todas as calamidades, em que não há mal algum, que, ou se não padeça, ou se não tema: nem bem que seja próprio e seguro. O pai não tem seguro o filho, o rico não tem segura a fazenda, o pobre não tem seguro o seu suor, o nobre não tem segura a honra, o eclesiástico não tem segura a imunidade, o religioso não tem segura a sua cela; e até Deus nos templos e nos sacrários não está seguro.

Padre António Vieira, Sermão Histórico e Panegírico


 

SERMÃO DE SANTO ANTÓNIO AOS PEIXES





 

Procuro-te



Procuro a ternura súbita,
os olhos ou o sol por nascer
do tamanho do mundo,
o sangue que nenhuma espada viu,
o ar onde a respiração é doce,
um pássaro no bosque
com a forma de um grito de alegria.

Oh, a carícia da terra,
a juventude suspensa,
a fugidia voz da água entre o azul
do prado e de um corpo estendido.

Procuro-te: fruto ou nuvem ou música.
Chamo por ti, e o teu nome ilumina
as coisas mais simples:
o pão e a água,
a cama e a mesa,
os pequenos e dóceis animais,
onde também quero que chegue
o meu canto e a manhã de maio.

Um pássaro e um navio são a mesma coisa
quando te procuro de rosto cravado na luz.
Eu sei que há diferenças
mas não quando se ama,
não quando apertamos contra o peito
uma flor ávida de orvalho.

Ter só dedos e dentes é muito triste:
dedos para amortalhar crianças,
dentes para roer a solidão,
enquanto o verão pinta de azul o céu
e o mar é devassado pelas estrelas.

Porém eu procuro-te.
antes que a morte se aproxime, procuro-te.
Nas ruas, nos barcos, na cama,
com amor, com ódio, ao sol, à chuva,
de noite, de dia, triste, alegre – procuro-te.


Eugénio de Andrade


 

Mar, mar e mar



Tu perguntas, e eu não sei,
eu também não sei o que é o mar.

É talvez a lágrima caída dos meus olhos
ao reler uma carta quando é de noite.
Os teus doentes, talvez os teus dentes,
miúdos, brancos, agudos, sejam o mar,
um mar pequeno e frágil,
afável, diáfano,
no entanto sem música.

É evidente que minha mãe me chama
quando uma onda e outra onda e outra
desfaz o seu corpo contra o meu corpo.
Então o mar é carícia,
luz molhada onde desperta
meu coração recente.

Às vezes o mar é uma figura branca
cintilando entre os rochedos.
Não sei se fita a água
ou se procura
um beijo entre conchas transparentes.

Não, o mar não é nardo nem açucena.
É um adolescente morto
de lábios abertos aos lábios da espuma.
É sangue,
sangue onde a luz se esconde
para amar outra luz sobre as areias.

Um pedaço de lua insiste,
insiste e sobre lento arrastando a noite.
Os cabelos de minha mãe desprendem-se,
espalham-se na água,
alisados por uma brisa
que nasce exactamente no meu coração.
O mar volta a ser pequeno e meu,
anémona perfeita abrindo nos meus dedos.

Eu também não sei o que é o mar.
Aguardo a madrugada, impaciente,
os pés descalços na areia.

Eugénio de Andrade, As palavras Interditas




 

Urgentemente



É urgente o amor
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
Ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos, muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
Multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.


Eugénio de Andrade, Até Amanhã



 

Lição sobre a água



Este líquido é água.
Quando pura
é inodora, insípida e incolor.
Reduzida a vapor,
sob tensão e a alta temperatura,
move os êmbolos das máquinas que, por isso,
se denominam máquinas de vapor.

É um bom dissolvente.
Embora com excepções mas de um modo geral,
disolve tudo bem, ácidos, bases e sais.
Congela a zero graus centesimais
e ferve a 100, quando à pressão normal.

Foi neste líquido que numa noite cálida de Verão,
sob um luar gomoso e branco de camélia,
apareceu a boiar o cadáver de Ofélia
com um nenúfar na mão.


António Gedeão, Linhas de Força



 

EXÓRDIO



exórdio



 

Conceito predicável



conceito predicável



 

lenda medieval



O Sermão de Santo António aos Peixes parte da lenda medieval segundo a qual o santo, numa das suas pregações em que não consegue ser ouvido pelos homens, lança a sua palavra na praia deserta para os peixes, que levantam a cabeça à superfície das águas como sinal da força da sua palavra.

O sermão desenvolve-se como uma alegoria*: também o Padre António Vieira se dirige aos peixes pretendendo, nas suas considerações, atingir os homens.


* A principal função da alegoria parece ser a de concretizar, tornar claras, facilmente apreensíveis, determinadas realidades abstractas ou espirituais.

(o polvo = imagem da hipocrisia e da traição).




 

Sermão de Santo António aos Peixes



Pregado na cidade de S. Luís do Maranhão, ano de 1654. Este sermão (que todo é alegórico) pregou o autor três dias antes de se embarcar ocultamente para o reino, a procurar o remédio da salvação dos índios.
Vos estis sal terrae (S. Mateus, 5)


I

Vós, diz Cristo Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra, o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhe dão, a não querem receber. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores dizem uma cousa e fazem outra; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que dizem. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores se pregam a si e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes se pregam a si e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. Não é tudo isto verdade? Ainda mal.

Padre António Vieira



 

O POLVO

o polvo

 

Padre António Vieira



Image hosted by Photobucket.com

Archives

outubro 2005   novembro 2005   janeiro 2006   fevereiro 2006   março 2006   abril 2006   setembro 2006   outubro 2006   novembro 2006   dezembro 2006   janeiro 2007   abril 2007  

This page is powered by Blogger. Isn't yours?